Foi aqui, neste bar, que tudo recomeçou. É o bar mais usual da minha zona. Bastante frequentado porém com bom ambiente. Uma música calma por trás. Não demasiado chique, mas com graciosidade. Serviço prestável. É o meu sítio predilecto para uma noite bem passada. Solitária ou satisfeita. É para aqui que eu venho.
Foi à não mais que um ano. Estava a festejar com as minhas amigas a entrevista que tinha conseguido. Não sabia o meu futuro. Mas naquele momento nada interessava. Queria comemorar pela minha vida começar por fim a tomar uma linha. Trabalho. Primeiro nível profissional. Depois pessoal. O primeiro objectivo estava a ser concretizado. O segundo não tinha data. Desviei o olhar para a porta. Algo me chamou a atenção. Era um rapaz alto. Com olhos verdes. Bonito. Aquela cara de forma oval era-me familiar. Não conseguia saber de onde. Mas o meu coração sabia. Claro que o conhecia. E ele a mim. Algo o deve ter chamado a atenção, pois estava a olhar para mim. Será que dei nas vistas? Não, não pode ser. Teria reparado. Elas iriam reparar e iriam chamar-me a atenção. Não pode ser isso.
Até que o reconheci, era o Gustavo. Era impossível não o reconhecer. Impossível. Alguém que foi tão importante para mim no Liceu. Como me poderia esquecer?
Ouvi ao longe alguém a chamar-me. Reconheci a voz. Mas não consegui olhar na sua direcção. Estava perante o grande amor da minha vida. Não podia desviar o olhar. Será que seria visão? Algo fruto do álcool? Recuso-me a acreditar. Vejo-o a arranjar caminho entre as pessoas que nos separavam, vejo-o a chegar até à minha pessoa. Ouço com a voz divinal o meu nome. Reconhecível para mim até quilómetros de distância. Agora sim. Tinha a certeza que era ele. Estava à minha frente. A falar comigo. Ele. O meu miúdo. O meu amor.